Martírio
Um desafio da espiritualidade missionária hoje é o das situações de conflito. O número de cristãos mortos violentamente, ao longo do século XX é da ordem das centenas de milhares. Todos os anos o número de missionários mortos violentamente anda pela volta das três dezenas.
Hoje um pouco por toda a parte, sobretudo em terras de missão, as situações de insegurança aumentam. Hoje a geografia do martírio não se limita como nos primeiros tempos do cristianismo ao espaço da confissão da fé. O martírio do missionário hoje não nasce tanto de uma profissão explícita da fé, mas da sua comunhão com os outros mártires: os humilhados e excluídos da história. Chamemos-lhe campos de refugiados, integralismo muçulmano, guerra étnica, intolerância religiosa, miséria imerecida, luta pêlos direitos mais elementares. É um espaço de martírio que hoje cobre uma vasta geografia sem tempo nem limites marcados.
Existem três espécies de martírio características da missão de hoje: o martírio da caridade, o martírio da não-violência ou dos inocentes e o martírio da esperança.
O martírio da caridade consiste em amar os outros até dar a vida por eles: ficar a seu lado nas horas em que a comunhão, a solidariedade, são a única maneira de ficar ao lado de Cristo. É a missão da comunhão, da presença.
O martírio da não-violência é o martírio dos inocentes, dos desarmados, dos despojados de todas as defesas. Dos que não sabem defender-se nem têm quem os defenda. É a missão da incompreensão, a solidão da cruz, da "hora de Jesus.
O martírio da esperança fala-nos de uma confiança a toda a prova, no amor de Cristo ao mundo, na paciência de Deus, do viver na fronteira, quando tudo aconselhava a refugiar-se nas trincheiras da retaguarda. É a missão da semente, do tempo que há-de vir, do acolhimento dos tempos de Deus.
Esta insegurança não é apenas física mas também psicológica. Antigamente partia-se para missão para toda a vida. A missão identificava-se com a igreja missionária. Hoje nunca sabemos até quando a nossa presença é necessária ou permitida. Somos hóspedes em terra estrangeira e o hóspede depende de quem o acolhe.
Antigamente tínhamos estruturas sólidas em que o missionário se apoiava e que lhe garantiam uma certa estabilidade. Hoje a única segurança que ele tem é a do Espírito que o envia e terá que caminhar "como se visse o invisível".
1 Comments:
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