Mãos no ar
A mensagem do Michael trazida hoje pelos jovens que regressavam de Bileil, foi uma boa ocasião para vivermos o Natal na paróquia de Nyala.
A noite prometia serena. O vento, o inimigo de quem passa a noite no deserto, apenas se mexe. A cabana do guardião – que hoje está de folga – mesmo pegada à porta da igreja, foi suficiente para nos resguardar do frio. Apareceram os khabiz – os doces típicos das grandes festas – as tâmaras e o chá. A conversa muito animada e intercalada com alguns cânticos natalícios.
Falou-se do Natal de ontem aqui na Igreja matriz, do Natal de hoje em Bileil e do Natal que viria pela semana adiante nos vários centros/capelas da cidade de Nyala. E ainda dava pano para mangas...
De repente, a pouca luz que vinha da entrada sem porta, ficou tapada por um espectro que avançava de arma em punho. Janjauid? Rebelde? Que queria de nós? E, sem que nos fosse exigido, vimo-nos todos de mãos no ar.
Avançou para nós e vimos outra figura igual pôr-se ao seu lado. Um deles finalmente, falou secamente: “está a chegar a hora do recolher”. Ah, são os da patrulha nocturna. Mas à paisana...quem diria? Em princípio, se lhes obedecermos, não haverá que temer. Ao meu lado, a Regina, que parecia desmaiada, voltou a si. As nossas vozes soltaram-se, ao mesmo tempo, e os dois ouviram o nosso “malesh” (desculpem).
O Zakaria tranquilizou o ambiente: “não se preocupem, senhores oficiais. Nós vivemos aqui perto; antes das 11 horas estaremos todos em casa”. O espectro desapareceu da minha mente. Agora eu via dois homens da patrulha da cidade que, com o dedo no gatilho da kalashnikov seguiam o grupo que estava a sair da cabana do guardião. Mesmo com as cordas vocais apertadas, atirei para o ar escuro um “Boas Festas para todos”. Como resposta, pareceu-me ouvir o eco das minhas palavras, que os dois homens armados engrossaram sem dificuldade nem medo, quais senhores da noite: “Boas Festas para todos”.
Entrei na igreja e fixei o meu olhar no Menino do presépio. Falei-lhe dos jovens a caminho de suas casas. “Tudo por causa do teu Natal nesta terra” – queixei-me –. Mas Ele assegurou-me que estava tudo bem com eles. E recordámos algumas das suas conversas de há minutos.
Entrei na igreja e fixei o meu olhar no Menino do presépio. Falei-lhe dos jovens a caminho de suas casas. “Tudo por causa do teu Natal nesta terra” – queixei-me –. Mas Ele assegurou-me que estava tudo bem com eles. E recordámos algumas das suas conversas de há minutos.
P. Feliz Martis, Nyala - Darfur
1 Comments:
Mãos ao ar, calo-me!
Perdoai-os Pai eles sabem o que fazem!
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